O que é filosofia ?

Índice
1. Filosofia 
2.Origem da filosofia
3. Porque filosofia ?




1. Filosofia 
Filosofia é uma palavra de origem grega (philos = amigo; Sophia = sabedoria) e em seu sentido estrito designa um tipo de especulação que se originou e atingiu o apogeu entre os antigos gregos, e que teve continuidade com os povos culturalmente dominados por eles: grosso modo, os povos ocidentais. É claro que, atualmente, nada impede que em a qualquer parte do mundo se possa fazer especulação "à moda grega", isto é, filosofia. 
Mas, se afirmamos que esse tipo de especulação é diferente, que tem características próprias, quais são estas, afinal? Que é afinal, filosofia? Bem... Se perguntarmos a dez físicos "o que é filosofia", eles responderão, provavelmente, de maneira parecida. O mesmo se passará, provavelmente, se perguntássemos a dez químicos "o que é química". Mas se perguntarmos a dez filósofos "o que é filosofia", ouso dizer que três ficarão em silêncio, três darão respostas pela tangente, e as respostas dos outros quatro vão ser tão desencontradas que só mesmo outro filósofo para entender que o silêncio de uns e as respostas dos outros são todas abordagens possíveis à questão proposta.
Para quem ainda está fora da filosofia, a coisa pode estar parecendo confusa. Mas a razão da dificuldade é fácil de se explicar: talvez seja possível dizer e entender o que é a física, de fora da física; e dizer o que é a química, de fora da química. Mas, para dizer e entender o que é a filosofia, é preciso estar dentro dela. "O que é a física" não é uma questão física, "o que é a química" não é uma questão química, mas "o que é filosofia" já é uma questão filosófica - e talvez uma das características da questão filosóficas que seja o fato de suas respostas, ou tentativas de resposta, jamais esgotarem a questão, que permanece assim com sua força de questão, a convidar outras pessoas e outras abordagens possíveis.
Para Aristóteles, o saber filosófico:
A. é um saber "de todas as coisas", um saber universal; num certo sentido, nada está fora do campo da filosofia;
B. é um saber pelo saber; um saber livre, e não um saber que se constitui para resolver uma dificuldade de ordem prática;
C. é um saber pelas causas; o que Aristóteles entende por causa não é exatamente o que nós chamamos por esse nome; de qualquer forma, sabe pelas causas envolve o exercício da razão, e esta envolve a crítica: o saber filosófico é, pois, um saber crítico.
2. Origem Da Filosofia 
Platão e Aristóteles indicaram com precisão a experiência que, segundo eles, dá origem ao pensar filosófico. É aquilo que os gregos chamaram "thauma" (espanto, admiração, perplexidade). A Filosofia, pois, começa quando algo desperta nossa admiração, espanta-nos, capta nossa atenção (que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim?), interroga-nos insistentemente, exige uma explicação.

Espantar-se diante das coisas, interrogá-las, é próprio da condição humana. Qualquer cultura, por mais primitiva que seja, tem, desde sempre, seu arsenal de respostas e explicações às questões que normalmente são postas. No caso de questões originárias como surgiu o mundo. Como surgiu aquele determinado povo, de onde vem a chuva ou o trovão ou o fogo, como foram induzidas as técnicas ou as regras sociais é comum que as respostas estejam contidas em mitos. E se, por um lado, é normal ao ser humano espantar-se, interrogar, é por outro lado normal que não se espante nem se interrogue muito. 

Sendo a maioria das pessoas pouco exigente, as explicações dados pelo mito, ou quaisquer outras explicações prontas de uma cultura, bastam para quebrar o espanto nascente e, assim sendo, a filosofia não acontece. Aliás, é comum também que as questões mais fundamentais não cheguem a ser postas - um ser humano pode crescer, assimilando com naturalidade as explicações dadas pela sua cultura sobre o mundo que o circunda, quer se trate do mundo físico, quer do social. 

As regras de conduta, o sistema de organização social e muitas vezes não chegam a espantar ninguém. As pessoas crescem aceitando sem discutir os papéis sociais que lhes são atribuídos, sem jamais questionar seu valor e seu porquê, como se tudo fosse parte da ordem natural e inacessível das coisas. Ora, a filosofia grega parece ter surgido quando, por uma série de fatores complexos, que não podemos aqui desenvolver, as respostas dadas pelo mito a certas questões não satisfizeram mais a certas mentes particularmente exigentes de um povo particularmente curioso e passível de se espantar - e as questões continuaram assim, com sua força de questão e de espanto, a exigir uma resposta que fosse além das convencionais.
3. Porque Filosofia? 
Uma das coisas que mais chamam a atenção, quando se examina o fenômeno filosófico da Grécia, é a rapidez com que a filosofia atingiu sua plena maturidade. Entre Tales e Platão, a distância é de apenas 2 séculos! É claro que isso dependeu da feliz coincidência de vários fatores, entre os quais o aparecimento de alguns gênios excepcionais. Mas também a própria maneira de ser da especulação filosófica determinou esse desenvolvimento meteórico. 

A explicação pelo mito, ou pela tradição, tem a força do sagrado. Quando muito fala, é como se Deus falasse - e com Deus não se discute. Mas quando, numa sociedade laicaizada como foi à grega do século VI a.C., onde não só o mito já está desacreditado, mas onde se pode dar o luxo de não levar o mito a sério, os sábios começam a dar explicações filosóficas sobre fenômenos naturais, estas não têm de modo algum a força do sagrado. A explicação filosófica é apenas a explicação de um homem. E, sem o endosso divino, ela não pode impor-se sem uma prova.

Ora, ao contrário da matemática, que, ao lado da filosofia, desenvolveu-se rapidamente nessa época, a filosofia não conseguia produzir suas provas. E assim a resposta de um filósofo só fazia convidar outro a apresentar sua resposta à questão. Isso parece ter provocado uma reação em cadeia, e o questionamento filosófico caminhou rapidamente, como continua caminhando até hoje, porque não tem fim. Desde os tempos gregos, muitas das questões que nasceram "filosóficas" já deixaram de o ser - pois foram resolvidas, perdendo sua força de espanto. Mas, em compensação, outras questões são suscitadas, em número infinito.
E agora talvez caiba uma pergunta: quais as conseqüências disso tudo? Bem... Entre os dez filósofos a quem mais acima propúnhamos a questão "o que é filosofia", talvez houvesse um engraçadinho que responderia com uma definição célebre e jocosa, que rola por aí sobre a filosofia: "é una scienza colla quale o senza la quale il mondo diventa tale e quale".

Num certo sentido, esse engraçadinho tem razão. Filosofia é saber pelo saber. Não sendo, pois, dirigida a nenhuma solução de ordem prática, ela é, num certo sentido, o mais inútil de todos os saberes. E cabe de novo perguntar: mas então... Pra que fazer isso? Bem... Quando se examina a história das civilizações, até um passado muito recente, um aspecto que chama a atenção é o dinamismo das sociedades ocidentais, em comparação com as orientais.

 A civilização ocidental não só elaborou as teorias no campo da biologia, da psicologia, da política, da economia, etc. que revolucionaram a visão tradicional sobre os homens e suas instituições. Com seus méritos e desméritos, vantagens e desvantagens, todo esse dinamismo tem a ver com o tipo de pensamento desenvolvido no ocidente, isto é, como a filosofia.

Ora, uma das belezas que nos revela a analise etimológica da palavra Filosofia é a modéstia com que o filósofo se apresenta: ele não é um sábio, ele é "amante da sabedoria". A Filosofia não é tanto um saber como a atividade: a busca, a do cultivo do saber. O primeiro espanto talvez tenha sido involuntário; mas, depois que se torna "amante da sabedoria", o filósofo torna-se amante do próprio espanto, que é a experiência que o jogo na atividade da busca do saber, que é o objeto do seu amor. 

O filósofo é alguém que sabe manter viva a capacidade de se espantar. Lá mesmo, onde todo mundo está instalado, dentro do óbvio mais ululante, o filósofo é aquele que chega e, com toda a espécie de perguntas engraçadas, dá uma sacudida e faz a ver que nada é óbvio, e que tudo no mundo é realmente pasmar! Nada escapa a seu questionamento: nem Deus, nem o homem e suas instituições, nem as ciências, seus métodos e seus resultados, nem os resultados do questionamento filosófico, nem o próprio direito do filósofo de questionar. Filosofia é "saber de todas as coisas" e é saber crítico. Nem ela própria pode escapar ao seu questionamento e à sua crítica.

Ora, numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde as normas são aceitas sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras, invasões... Mas lá onde há questionamento de tudo existe um principio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade de mudança.

É por isso que, entre os nossos dez filósofos, um certamente se insurgiria contra seu colega engraçadinho e bradaria indignado: "Alto lá! A Filosofia é o contrário disso, ela é justamente a ciência com a qual não é possível ao mundo permanecer tal e qual!".
E é só entrar na Filosofia para entender que ele também tem razão.